segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ELE E O SUJEITO.

    Ele chegou na boate por volta das vinte e três horas e rodou pela pista em busca de companhia; como não encontrou foi até o bar e fez um pedido:  
      - Por favor, chefia, um Cuba libre!
     O barman demonstrou a má vontade costumeira e se pôs a preparar o drink. Ele olhou em volta na esperança do cenário ter mudado, porém não houve nenhuma alteração. Recebeu a bebida da mão do barman e comentou:
      - Poxa, chefia, não tem mulher desacompanhada aqui?
      O barman meneou a cabeça e se afastou. Ele recostou-se em uma das paredes e ficou saboreando a bebida enquanto observava a movimentação. Não demorou muito e apercebeu-se de um sujeito negro, de uns dois metros de altura e braços de bate-estacas, parado do outro lado da pista a encará-lo efusivamente. Aquela situação começou a causar certo constrangimento, ele foi até o bar e perguntou ao barman:
      - Chefia, você conhece aquele sujeito que está do outro lado da pista perto do extintor?
      O barman olhou por cima do ombro dele e avistou o sujeito, num sussurro respondeu:
      - É uma espécie de patrão aqui pelas redondezas, se é que você me entende, por aqui todo mundo o respeita muito!
      Ele sentiu certo desconforto ao saber que aquele sujeito enorme que o arrostava era respeitado por todos ali. Deu nova olhadela na direção do extintor e ficou aliviado ao notar que o sujeito não estava mais lá.  Fez meia volta em direção ao seu antigo lugar na parede e, para sua surpresa, o sujeito estava parado lá e continuava a encará-lo. Ele, um tanto quanto fugaz, seguiu para o banheiro, pois aquela vicissitude deixou-o com a bexiga apertada. Mal saiu o primeiro jato de urina e ele sentiu um olhar penetrante atravessar sua nuca, suou frio quando avistou de esguelha o sujeito parado perto da porta. Nem bem terminou de urinar guardou “as coisas” tão depressa que molhou as calças. Correu para o bar e implorou ao barman:
      - Chefia, me vê outro... E capricha no Rum!
      Ele bebericou seu drinque e tentou ficar olhando para o teto para evitar novas confusões. Sentiu uma presença ao seu lado e não precisou olhar para saber que era o tal sujeito a encará-lo, numa impulsividade desmedida bateu com o copo no balcão e gritou:
      - O que foi sujeito, porque está me encarando... Estou cagado???
      O silêncio absoluto se estabeleceu naquele lugar, as picapes gritantes se calaram, cerca de vintes pessoas vieram, como se fosse necessário, para auxiliar o sujeito. Ele só conseguia pensar em uma coisa: - Estou morto! Foi quando aquele sujeito, como um mágico, fez um único gesto que restaurou a ordem do lugar; sorriu com os olhos para ele e disse:
      - Calma, rapaz... Você não está entendendo nada!
      Ele suspirou acanhado e tentou até se explicar:
      - Poxa... desculpa... cruzei com você umas três vezes hoje e, não sei o que me deu, cismei que você estava me encarando. De certo que não estou bem... e acabei te julgando mal!
      O sujeito dedilhou os lábios, sorriu com o canto da boca e murmurou:
      - Julgaste bem... eu estava te encarando!!!
      Sem esconder a surpresa ele vomitou:
      - Como assim? Não estou entendendo mais nada!!!
      O sujeito fitou ele, bem no fundo dos olhos, e disse:
      -É que eu te achei uma gracinha... A gente podia usar esse mal-entendido para conversar e, quem sabe, se conhecer melhor?
      Ele inspirou profundamente, mediu o sujeito dos pés a cabeça ... pensou, raciocinou e refletiu... soltou todo o ar de uma só vez e declarou:
      - Tudo bem, a gente pode conversar... mas... você se importa se eu me encostar na parede???

MORAL:
Quando a curra é inevitável... relaxa e encosta!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário