sexta-feira, 12 de agosto de 2011

FILANTROPIA.

      Logo que entrou na ponte do Morumbi, Dr. Roberto D’almeida, proeminente químico industrial, sentiu um fedor mais forte do que comumente exala o rio Pinheiros; chegando no meio da ponte notou uma imensa fila que se estendia pela avenida Morumbi e, o que era mais estranho, o fedor parecia estar vindo dela.
      Ao se aproximar da peculiar fila percebeu que ela era composta de mendigos, bêbados, drogados e dementes. Eles que, enquanto aguardavam na fila, faziam suas necessidades por ali mesmo; as fezes misturadas com a urina e os restos de comida causavam aquele cheiro forte. Cheiro esse que não era estranho ao Dr. Roberto, muito pelo o contrário, ele o conhecia bem de perto. Mas, o cheiro, naquele lugar tão sem propósito, começou a causar-lhe náuseas e, ao perceber que a fila seguia pela Rua Antonio de Andrade Rebelo, onde fica a sua abastada residência, o fez vomitar no bolso do seu “Ricardo Almeida” para não sujar o carpete da BMW.
     Porém, o pior ainda estava por vir. Dr. Roberto quase enfartou quando viu, parada próxima a sua garagem, uma barraca onde distribuíam alimentos para todos aqueles pedintes. O pior é que não era qualquer alimento, era um Buffet com seis tipos de pratos, quatro de bebidas e dois de sobremesas, o que provocou, graças ao boca-boca, a presença ali de todos os desvalidos da capital.
      Dr. Roberto respirou fundo, controlou sua ira e foi em direção daquele senhor que parecia ser o líder da malfadada ação, usando de toda a sua cortesia indagou-o:
     - O senhor Sabe que está em frente a uma propriedade partícular, cuja qual eu sou o proprietário?
    Sem dar muita atenção aquele senhor respondeu:
     - Sim, eu sei!
     O Dr. Roberto tentou ser amigável e procurou puxar conversa:
     Desculpe-me, eu sei que a sua intenção é a melhor possível e admiro muito a sua iniciativa. Talvez o senhor não saiba, mas eu sou sócio fundador e benemérito da sociedade caçadores de almas e faço uma atividade similar a essa três vezes por semana a mais de cinco anos!
     Olhando de soslaio aquele senhor respondeu:
     Sim, eu sei!
     Cheio de si, Dr. Roberto, continua a rezar seus dotes filantrópicos:
      - Desculpe-me novamente, mas o senhor deveria promover essa atividade em um lugar mais apropriado. Veja bem, eu tenho bastante experiência nessa área e poderia lhe indicar um ponto, melhor localizado, para você distribuir esses alimentos sem causar danos. Talvez o senhor não faça idéia, mas juntar este numero de necessitados na frente de residências pode ser um tanto desagradável!
     Aquele senhor levantou os olhos e finalmente o encarou:
      - Sim, eu faço idéia!
      O Dr. Roberto, interpretando aquele olhar como interesse, tentou convencê-lo:
     - Pois então, tenho um ponto muito bom, no centro da cidade, e distribuo lá trezentas marmitas por noite, três vezes na semana. O senhor poderia revezar o ponto comigo e juntos poderíamos alimentar aquelas pobres almas todos os dias! É um ponto muito bom na Rua dos Protestantes, bem na esquina, em frente ao condomínio Santa Josefa, o maior prédio da região, o senhor conhece o condomínio Santa Josefa???
Os olhos daquele senhor faiscaram:
     - Sim, eu moro lá!!!

MORAL:
Gozar com o pau dos outros é refestelar-se!!!
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